Grupos Temáticos 001/2021

GT1 – Decolonialidade, corpos, gêneros e sexualidades: das confissões da carne à pele que vibra

Decoloniality, bodies, genders and sexualities:  from confessions from meat to vibrating skin

Dulce Mari da Silva Voss (UNIPAMPA)
Eliada Mayara Cardoso da Silva Alves (UNIPAMPA)
Juliane dos Santos Porto (UNIPAMPA)

Nossa proposição consiste em promover conexões temporárias de interlocução entre pesquisadores/as, ativistas, artistas, educadores/as que investem suas artes de pensar e criar a decolonialidade dos corpos, gêneros e sexualidades, compondo seu arsenal de luta política, filosófica, epistemológica, educacional, ética e estética a partir das filosofias da diferença de Nietzsche, Deleuze, Guattari, Foucault, e demais intercessores, como Rolnik, Mbembe, Preciado, Butler, Pelbart, entre outros/as/es.  Artes de existir e resistir que borram as fronteiras de relações de poder-saber-prazer, as tecnologias da pele, a amortização dos corpos, gêneros e sexualidades nas práticas discursivas e não discursivas que instituem verdades em relação aos corpos, gêneros e sexualidades enquanto categorias biológicas, genéticas, físicas, generificadas, racializadas. Categorizações que definem formas molares fabricadas por relações eurocêntricas, patriarcais, cisheteronormativas. Todo um jogo de poder-saber-prazer iniciado desde a época clássica, era vitoriana, como escreve Foucault, em que os discursos sobre sexualidade se multiplicam, regras de decência são estabelecidas com o intuito de delimitar o que é o normal e o anormal, o permitido e o proibido. Vigiar e punir os pecados da carne via prática da confissão foi a norma adotada pelo cristianismo e o catolicismo, mas também por instituições jurídicas, educacionais, médicas que passam a prescrever e revelar a verdade sobre os corpos, gêneros e sexualidades. Com o Pensamento científico moderno outras tecnologias de governos dos corpos são engendradas, delimitando, do ponto de vistas, das ciências positivas quais discursos são verdadeiros, quais corpos podem existir. Nesse jogo, o estado, a justiça, a ciência, a educação, a saúde criaram pedagogias totalitárias de disciplinamento e controle que tiveram como efeito a colonização dos corpos. Dispositivos de governo, como as biopolíticas e as necropolíticas neoliberais e neoconservadoras, nos tempos contemporâneos, intensificam a captura do inconsciente e do desejo, das sexualidades periféricas: crianças, mulheres, homossexuais, transsexuais, intersexuais e tantos outres que não deixam de resistir. Com Nietzsche descobrimos que esse embate constante acontece entre forças reativas, que capturam nossos corpos e os prendem as categorizações, governamentos, e forças ativas que intensificam vontade de potência. Corpos que subvertem a ordem posta, inventam a decolonialidade. Como dizem Deleuze e Guattari, ao desorganizar o corpo organismo, experimentam devires intensos, devires animal, devires criança, devires mulher, zonas de vizinhança, relações moleculares, potências, multiplicidades de multiplicidades, como dizem. Assim, corpos insurgentes inventam e reinventam diferentes gêneros e sexualidades e escapam à colonização ao sentir a pele a que vibra com a diferença. 

GT 2 – Cemitérios em Perspectiva: História, Memória, Patrimônio e Processos de Gestão

Perspectives Cemeteries: History, Memory, Heritage and Management Processes

Diego Lemos Ribeiro (Universidade Federal de Pelotas)
José Paulo Siefert Brahm (Universidade Federal de Pelotas)
Davi Kiermes Tavares (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia)

Este grupo de trabalho propõe refletir e discutir trabalhos relativos à história, à memória, ao potencial patrimonial e aos processos de gestão e conservação dos cemitérios, sobretudo os chamados cemitérios oitocentistas ou tradicionais/secularizados. Esses lugares de enterramento possuem uma fulcral importância na história da humanidade justificada por vários escritos em temporalidades diversas, a saber. Do ponto de vista histórico, Lewis Mumford (1895-1990), em seu clássico livro – A Cidade na História: suas origens, transformações e perspectivas – estabelece que “A cidade dos mortos antecede a cidade dos vivos. Num sentido, aliás, a cidade dos mortos é a precursora, quase o núcleo, de todas as cidades vivas. A vida urbana cobre o espaço histórico entre o mais remoto campo sepulcral da aurora do homem e o cemitério final, a Necrópolis em que uma após outra civilização tem encontrado o seu fim” (2004, p.13). Pela mirada da memória, a incontornável colocação de Norbert Elias (1897-1990), em tocante passagem de A Solidão dos Moribundos, observa – “[…] o medo de morrer é sem dúvida também um medo da perda e destruição daquilo que os próprios moribundos consideram significativo […]. O que está escrito na pedra é uma mensagem muda dos mortos para quem quer que esteja vivo – um símbolo de um sentimento […] de que a única maneira pela qual uma pessoa morta vive é na memória dos vivos. Quando a cadeia da recordação é rompida […] o sentido de tudo que o seu povo fez durante milênios e de tudo o que era significativo para ele também se extingue” (2001, p.41). William Lloyd Warner (1898-1970), em obra precursora – The Living and the Dead: A Study of the Symbolic Life of Americans -, diz: “Assim como os cemitérios refletem em miniatura a vida passada e as eras históricas através das quais a comunidade passou, os cemitérios contemporâneos expressam simbolicamente a atual estrutura social” (1959, p. 35). Em continuidade, Warner alega que os elementos básicos de organização social assim como os conflitos deles decorrentes, a vida associativa da comunidade e todo o seu status social, tudo isso pode ser “lido” pelas pistas fornecidas pelo cemitério. Por último, mas não por fim, recordemos o que assinala José de Souza Martins, estudioso do assunto e um dos pioneiros em estudos sobre a cultura funerária no Brasil: “[…] tenho o hábito de visitar cuidadosamente os cemitérios das localidades que percorro quando faço pesquisa. Os monumentos funerários são ainda o documento iconográfico mais importante para se conhecer, num primeiro relance, a estrutura e a história de uma sociedade” (A Morte e os Mortos na Sociedade Brasileira, 1983, p. 258). Essas assertivas nos permitem considerar o cemitério um dos lugares, por excelência, para a compreensão do binômio cultura e sociedade e seus desdobramentos. Assim sendo, convidamos a inscreverem-se, pesquisadores, estudiosos, interessados, que possuam trabalhos conexos ao tema e aos objetivos propostos.

GT 3 – Indústrias Criativas e Desenvolvimento no Contexto Pandêmico

Creative Industries and Development in the Pandemic Context

Gislene Feiten Haubrich (Universidade do Porto)
Vania Gisele Bessi (Universidade Feevale)

As indústrias criativas (IC) são importantes vetores do desenvolvimento socioeconômico mundial. Desde a sua emergência, no final dos anos 1990 na Inglaterra e na Austrália, trata-se de uma importante base para desenvolvimento urbano, tecnológico e de inovação, além de estímulo à diversidade e democratização da cultura. Avalia-se que em 2017 esse setor tenha contribuído com 2,61% do Produto Interno Bruto brasileiro (PIB), fazendo circular cerca de R$171,5 bilhões (FIRJAN, 2019). Em Portugal, no ano de 2016, o Valor Acrescentado Bruto (VAB) referente às IC foi de 3 milhões de euros, representando 3,6% do total nacional (DGAE, 2018). No entanto, o processo de amadurecimento do campo ainda revela inúmeros desafios, como a informalidade, a carência de proteção legal (empregatícia e de propriedade intelectual), a dependência de políticas públicas de incentivo, entre outras. Por fim, o cenário da pandemia declarada em 2020 potencializa tais impasses, especialmente devido ao adensamento da crise econômica e ao distanciamento social necessário como medida preventiva. De acordo com o relatório publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2020), a crise decorrente das medidas de contenção da Covid-19 tende a afetar de modo mais intenso os setores das Artes, Entretenimento, Recreação e Turismo. Por outro lado, as atividades culturais e criativas, mediadas por diferentes estruturas tecnológicas, foram uma inovação que se constituiu como refúgio para público e possibilidade para os trabalhadores manterem-se financeiramente (NOBRE, 2020).  Diante deste breve contexto, o GT tem como objetivo dar destaque às iniciativas oriundas do campo das Indústrias Criativas, preferencialmente aos estudos empíricos, que permitam a leitura de impactos vivenciados por trabalhadores na condução de sua atividade de trabalho, na elaboração de novos negócios e projetos e na superação das adversidades contemporâneas. Abordagens disciplinares são aceitas, ainda que sejam preferidas propostas interdisciplinares que tensionem, em uma proposta não exaustiva, os temas seguintes: projetos criativos e geração de renda; desenvolvimento e impactos à carreira; propriedade intelectual e produção criativa digital; ambientes criativos e desenvolvimento regional; criação de novos negócios; políticas públicas e incentivo às ICs; estratégias de enfrentamento individuais e organizacionais aos impactos da pandemia nas ICs. Estima-se que a conjunção de investigações permita a construção de uma leitura ampla, ainda que situada, das diferentes realidades que formam o escopo das ICs.

GT 4 – As artes no contexto de suas mediações técnicas e tecnológicas

The arts in the context of their technical and technological mediations

Daniel Ferreira Wainer (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Este Grupo Temático tem o objetivo de acolher propostas que se relacionem com o universo das artes no contexto de suas mediações técnicas e tecnológicas. Para dar conta deste tema, espera-se que os textos enviados abordem, de alguma maneira, aspectos ligados a cadeias produtivas materiais e simbólicas ou circuitos de difusão e consumo, tanto do ponto de vista macro, quanto micro. Dentro do campo da música, por exemplo, podem ser explorados mecanismos de regulamentação e repasse de royalties para distintos agentes, o uso das plataformas de streaming e a legislação de direito autoral, que normatiza sua circulação mais ampla. Tentativas de compreensão das preferências por distintos formatos de lançamento, pela divulgação de álbuns inteiros ou singles, pelo privilégio do áudio sobre a arte gráfica e os videoclipes, entre outros assuntos, seriam também muito bem-vindas. Pretendemos, no entanto, abrigar propostas direcionadas às diversas artes e, por isso, nos situamos dentro do quadro geral dos estudos da indústria cultural. A inexorabilidade da pandemia global decorrente da Covid-19, capaz de afetar a vida social como um todo, redesenhou processos tipificados no contexto da digitalização dos mercados, os quais parecem ter ganhado novos contornos. A fragmentação de campos profissionais, a ocupação de muitas das funções da cadeia produtiva por agentes únicos, certa disparidade entre valores gerados e recebidos etc., nos levam, afinal, a buscar compreender as modulações sofridas pelas mediações técnicas e mágicas do mundo, assim como seus jogos relacionais e economias simbólicas complexas em disputa. Temos hoje dispositivos e mídias que não existiam há pouco tempo, com funcionalidades diversas e partilhadas: sites, blogs, canais de compartilhamento de vídeos e redes sociais, ipads, smartphones, tablets e computadores. Em um mundo de novos meios, cuja natureza digital cada vez mais se impõe, o acesso a câmeras fotográficas, de vídeo e gravadores se aliou a diferentes ferramentas criativas que permitem o desenvolvimento de mensagens e narrativas próprias com as quais os outros podem se identificar. Assim, cada vez mais integrados à vida cotidiana, os media e a produção digitalmente mediada, ao potencializar mecanismos de participação interventivos, transformam politicamente os ambientes sociais e a forma como as pessoas interagem. É neste cenário de multiplicidade, suposta descentralização, abertura, reflexividade e heterodoxia que fazemos este convite para uma reflexão sobre a potencialidade das diferentes tecnologias no desenvolvimento de práticas criativas e exploratórias. A possibilidade de distribuição produtivamente maximizada e personalizada de conteúdo, por parte das plataformas de mídia, constitui, afinal, ferramenta de domesticação das mentes e corpos? De que modo funcionam seus algoritmos e até que ponto os gostos de variadas gerações estão sendo regidos e reformulados por esses sistemas “altamente eficientes” de direcionamento das informações? 

GT 5 – Linguagem e o Público Alvo da Educação Especial: conexões e aprendizagem

Language and the Target Audience of Special Education: connections and learning

Ailton Barcelos da Costa (Universidade Federal de São Carlos)
Yan Masetto Nicolai (Universidade Federal de São Carlos)
Fernanda Squassoni Lazzarini (Universidade Federal de São Carlos)

Nas últimas décadas, a inclusão das Pessoas Público Alvo da Educação Especial (pessoas com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação) vem ganhando força no Brasil e no mundo, seja pela criação da Lei Brasileira de Inclusão, ou a Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas), que pressupõe, dentre outras medidas, assegurar a educação inclusiva para garantir um desenvolvimento equitativo e sustentável. Em se tratando de Brasil, a educação inclusiva é tratada como sendo fruto de uma luta diária e não uma política de governo, entendendo-se como sendo aquela na qual o aluno tenha o seu direito de aprender preservado, independente de suas dificuldades motoras, sensoriais, mentais ou sociais. Nesse sentido, para que a inclusão do PAEE se efetive, a escola precisa romper com as barreiras arquitetônicas, sociais, atitudinais e de formação. Com os avanços na política de inclusão e da educação para todos, houve um significativo aumento do percentual de alunos do PAEE matriculados no ensino regular, uma vez que a taxa de matrícula passou de 46,8% em 2007 para 85,9% em 2018. Evidentemente, ainda há muito o que se fazer, pois além de buscar a universalização do acesso a estes alunos na escola regular, resta ainda a melhoria da qualidade de ensino, e de fato se procurar que estas crianças de fato estejam inclusas e recebendo um ensino de qualidade. Sobre a formação do docente para a atuação com PAEE, há um consenso de que ainda existe uma precariedade na sua formação e de conhecimentos básicos, tento em vista a falta de cursos superiores específicos de Licenciatura em Educação Especial ou de Pós-Graduação na área, ou mesmo a precariedade dos currículos da graduação das demais licenciaturas, cujos graduados deverão atuar no ensino regular, e, portanto, também no ensino do PAEE na respectiva sala inclusiva. Uma das defasagens está no fato de áreas que ensinam linguagens, principalmente línguas – maternas e estrangeiras –, seja para o PAEE, seja para alunos em geral. Dessa forma, conectar a inclusão ao ensino de línguas se torna importante e imperativo na atualidade. Um dos aspectos possíveis de lidar com este tipo de relação está em metodologias e formas de se apresentar os alunos às competências linguísticas cabíveis de se declarar que um aluno tem autonomia na língua-alvo – seja a materna, seja a estrangeira. Partindo destas premissas, o presente grupo temático pretende receber trabalhos que visem a discussão – direta e indiretamente – de aspectos que envolvam Educação Especial, ensino de públicos de diversas faixas etárias e os desafios mais específicos do ensino de linguagens, e ainda mais focalizadas as línguas maternas e estrangeiras, com o objetivo de desenvolver o indivíduo para sua autonomia buscando os pontos fortes do que cada um tem – e não suas limitações, sejam quais forem. 

GT 6 – Entretenimento, adaptações de mundos  e práticas transmídia

Entertainment, adaptations of worlds and transmedia practices

Dario de Souza Mesquita Junior (DAC – UFSCar)
Yan Masetto Nicolai (PPGL – UFSCar)

Existe um contexto econômico, tecnológico e cultural que fundamenta práticas em que o conteúdo converge por distintas mídias e plataformas de forma intensificada e aberta para participação do público. Isso, associado a hábitos de consumo criados diante do grande fluxo de informações, cria possibilidades criativas no ambiente do entretenimento que se traduzem por práticas transmídia, ao mesmo tempo que emergem reflexões sobre os conteúdos que transitam através de mídias e plataformas podem ser articulados. Pela lógica transmídia, mundos ficcionais são concebidos e entregues de forma coerente por livros, quadrinhos e videogames, resultando nas multiplataformas. Scolari (2017) defende que é preciso discutir a prática transmídia em conjunto com diferentes campos a fim de sempre renovar as reflexões no atual cenário comunicativo, em que todos os projetos criativos precisam atuar por diferentes meios e todo consumo midiático se dá por distintas telas e de forma participativa. Os diferentes públicos dos meios de comunicação agora atuam conectados às redes, demandando novas formas de experiência, atuando conjuntamente na criação e propagação de conteúdo. Teorizado primeiro por Henry Jenkins pelo conceito de transmedia storytelling, traduzido no Brasil como narrativa transmídia, a lógica transmídia vai além da formulação teórica estabelecida por Jenkins em criar uma experiência em que cada meio explora uma nova história de um mundo complexo. Há outros percursos teóricos e metodológicos que refletem sobre o fenômeno por diferentes perspectivas, como a partir do campo literário, do design e dos videogames. Caminhos explorados por autores como Masha Kinder (1991), Carlos A. Scolari (2013), Maurie-Laurie Ryan (2013), Christy Dena (2009), Marc Steinberg (2018), Lisbeth Klastrup e Susana Tosca (2004), João Massarolo (2011), Yvana Fetiche (et al., 2013) e Lucia Santaella (2013). Em comum, todos os autores abordam sobre como um universo de histórias pode ser explorado por distintas linguagens e interfaces. Esta expansão permite, por exemplo, que elementos dispersos possam ser apropriados facilmente pelo público ou atuar como franquias de entretenimento – propriedades intelectuais geridas a longo prazo e por diferentes contextos culturais. Nesses parâmetros, a presente proposta de grupo temático busca abarcar essas diferentes abordagens dos fenômenos relacionados às práticas transmídia no entretenimento em sintonia com a convergência midiática. O grupo objetiva ser uma interface cabível entre diferentes áreas do conhecimento que tomem o entretenimento como objeto de estudo, abordando fenômenos como a transposição de mundos originários de obras literárias para o cinema, de videogames para livros ou até mesmo séries audiovisuais, podendo explorar também fanfics (ficções de fãs) ou contos em blogs derivados de obras audiovisuais e literárias. 

GT 7 – Ciências Humanas, Música e Audiovisual: interações e contribuições

Human Sciences, Music and Audiovisual: interactions and contributions

Rodrigo Luis dos Santos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS / Instituto Histórico de São Leopoldo)

O objetivo deste GT é congregar trabalhos que, no escopo das Ciências Humanas, estabeleçam relações com o campo da música e do audiovisual, seja como fonte de pesquisa, forma de produção ou objeto de estudo, entre outras possibilidades. Nos últimos anos, o campo das Humanidades tem alargado seu leque operacional, com sólidas ligações com outras áreas do conhecimento e da produção sociocultural. Com isso, a música, o rádio, o cinema, a televisão, documentários, a internet e outros produtos/processos tem se tornando fonte de pesquisa, objeto de estudo e forma de materialização e difusão das produções acadêmicas. A História, Antropologia, Sociologia, Educação, Ciência Política, assim como a Psicologia, Artes, Linguística e outras áreas, perceberam a potencialidade que os produtos culturais tem de reproduzir processos sociais, políticos, econômicos, estéticos, imaginários, identidades e discursos dos diferentes grupos sociais. A música, o rádio, o cinema (aqui podendo incluir os documentários), a televisão e, mais recentemente e com grande força, a internet e redes sociais (que podem ser entendidas como equipamentos audiovisuais), tem permitido um enérgico processo de globalização, ao mesmo tempo em que potencializa vislumbrar diferenças e demarcações que poderiam passar incólumes anteriormente. Aproximações entre indivíduos e grupos contrastam com uma noção mais ampla de disparidades e animosidades, expressas em mecanismos e produções culturais, de forma objetiva ou incutidas subjetivamente. Se faz necessário um olhar mais crítico, buscando perceber a profundidade, recursos e entrelinhas presentes nestas formas de expressão e difusão, assim como seu impacto dentro do tecido social e diferentes percepções, apropriações e ressignificações individuais e/ou coletivas. Diante deste cenário, nosso Grupo de Trabalho quer oportunizar um espaço profícuo de debate, troca de ideias, informações e divulgação de estudos que lancem olhares sobre o campo da Música e do Audiovisual, congregando diferentes perspectivas de temáticas, escopos teóricos e conceituais e campos de pesquisa, em uma dimensão multi e interdisciplinar. Os trabalhos submetidos podem verticalizar sua apreciação sobre a realidade brasileira e internacional, em diferentes períodos temporais. Por fim, também visa suscitar e incentivar mais pesquisas e desdobramentos, contemplando e impulsionando o alcance dos trabalhos que vem sendo desenvolvidos, assim como de estudos futuros. 

GT 8 – Políticas Patrimoniais e Cidades

Heritage Policies and Cities

Alexandre dos Santos Villas Bôas (Universidade Federal do Pampa)

As políticas patrimoniais de preservação do patrimônio cultural e as cidades estiveram intimamente ligadas desde a criação do antigo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) em 1937, tendo como um dos seus pressupostos a intervenção do Estado no direito de propriedade de prédios que eram de interesse para a preservação em meio a um cenário de desenvolvimento urbano e re-configurações de centros urbanos. A partir de uma prática de preservação de prédios isolados, passando para a preservação de centros urbanos de cidades de arquitetura colonial, se chegou a construção de uma política patrimonial mais abrangente, com o incentivo ao planejamento urbano integrado à preservação de centros urbanos, aumentando o escopo de atuação dos órgãos gestores do patrimônio cultural. Neste interím, programas foram criados, como o Programa de Cidades Históricas (PCH) nos anos 1970, conjugando a preservação do patrimônio ao desenvolvimento do turismo, condicionando a liberação de recursos financeiros a projetos que contemplassem estas premissas, iniciando uma virada na relação entre as cidades e os órgãos gestores do patrimônio. Posteriormente, nesta mesma linha, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na modalidade Cidades Históricas foi criado em 2009, o qual estimulou o tombamento de centros urbanos de cidades periféricas, as quais poderiam obter recursos que alavancassem sua economia tendo o patrimônio como sua mola propulsora, levando a questão patrimonial ser considerada prioridade nestas cidades, as quais de outra forma teriam muitas dificuldades para preservar seu patrimônio cultural, assim como poderiam dinamizar suas economias. Contudo, cada vez mais a sociedade civil reivindicava uma maior participação nas decisões da política patrimonial, com canais apropriados em que pudesse deliberar efetivamente sobre o destino de seu patrimônio cultural, com a inclusão de outros tipos de patrimônio além do tradicional, colocando a palavra democracia participativa como vetor destas discussões, pressionando o Estado a incluir na pauta, por exemplo, a criação de órgãos como os conselhos de patrimônio com a inclusão dos atores anteriormente excluídos. Neste sentido, este grupo temático tem a intenção de discutir as mais diversas políticas patrimoniais implementadas nas cidades, sejam públicas ou privadas, ao longo do tempo e na contemporaneidade, com o objetivo de verificar as tensões entre a política patrimonial efetuada pelo Estado e a sociedade civil, nas suas mais variadas manifestações, material e imaterial, da existência de políticas (ou não) de preservação da memória de grupos excluídos, ou seja, o universo multifacetado do patrimônio cultural na temporalidade e espaços de sua presença como parte integrante da formação do ser humano. 

GT 9 – Ensino remoto nas redes públicas de Educação básica e no Ensino superior

Remote teaching in public basic education and higher education networks

Bárbara Regina Gonçalves Vaz (UNIPAMPA)
Larissa Lima Nascimento Costa (UNIPAMPA)

A adoção do ensino remoto durante a pandemia do coronavírus (COVID-19) trouxe a tona um novo cenário. A experiência atual de ensino remoto mostra que a política educacional precisa contemplar o ensino híbrido como modalidade oferecida por todas as escolas. Agora foi a pandemia, mas podem haver eventos climáticos e outros motivos para ter que fechar a escola. Além disso, o ensino híbrido amplia as experiências de aprendizagem dos jovens e aproxima a educação da maneira como vivem hoje, permeada pela tecnologia. A escola precisa ser um ambiente mais contemporâneo. Daí a importância da abordagem em questão. 

GT 10 – Protagonismo e participação infantil: agenciamento das crianças em espaços formais e não formais

Protagonismo y participación infantil: agencia infantil en espacios formales y no formales

Eleonora das Neves Simões (UFPEL e Prefeitura Municipal de Rio Grande (PMRG)
Jeruza da Rosa da Rocha (UAB/UNIPAMPA)

Este grupo de trabalho propõe discussões sobre o protagonismo e a participação das crianças em espaços formais e não formais, que retratem processos educativos propulsores da formação e do desenvolvimento dos bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas. Concebendo-as como atores sociais (re)produtores de culturas, comunicadoras e produtoras de suas realidades, de suas vivências no mundo contemporâneo e ativas na transformação social. Persegue-se o entendimento de que as crianças agem e interpretam o mundo adulto por meio de olhares, gestos e ações, são atentas as experiências cotidianas vivenciadas com seus pares e com os adultos. As crianças vivenciam suas infâncias de forma heterogênea, são atravessadas por questões de gênero, culturais, sociais, das relações étnico-raciais e tantas outras que as atravessam e as constituem. Elementos estes, presentes na reinterpretação que tecem sobre seus cotidianos, os quais proporcionam visibilizar a organização e os saberes dos grupos socioculturais. Na escola, em outros âmbitos da sociedade civil, em ONG’s cabe pensar sobre o papel e a responsabilidade dos adultos na construção de espaços participativos, pensando nossa responsabilidade para com a efetivação e garantia dos direitos das crianças. Problematizar a participação infantil e o protagonismo é foco do GT, nos seus entrelaçamentos. Pensar esses cotidianos que nos atravessam, essas linhas que nos agenciam e nos convocam a sermos de um determinado modo. Convoca-se os participantes a problematizar ações culturais que envolvem o a participação infantil e o protagonismo das crianças; pesquisas que apresentem seu construto epistemológico e metodológico com a participação infantil; práticas educativas em contexto escolar que tratem da participação das crianças; ações e práticas de movimentos sociais que insiram as crianças como atores do desenvolvimento e da organização de suas atividades; práticas que possibilitem pensar a relação entre participação infantil e democracia como assembleias; pensar os currículos dos cursos de formação em Pedagogia na interface com as discussões sobre estes dois conceitos, participação e protagonismo, bem como o modo como isso produz modos de ser professor e professora de crianças. O escopo deste GT, de modo ampliado, prevê ações de extensão e de pesquisas concluídas ou em andamento que apresentem análises de dados capazes de proporcionar discussões conceituais, a presença das crianças na criação de ferramentas metodológicas em contexto investigativo, a participação das crianças em projetos em contextos escolares e extra-escolares salientando seus modos de ser, estar e agir no mundo. 

GT 11 – Gênero, discurso e direito

Gender, discourse and law

Rebeca Lins Simões De Oliveira (Universidade De Pernambuco)

O presente grupo temático possui o objetivo de captar propostas de análise de textos jurídicos (decisões, acórdãos, apelações entre outros) que desmistifique a aura de objetividade e imparcialidade que envolve o Direito (e a lei) e que tratem das desigualdades de gênero e demais grupos minoritários em suas as distintas configurações que possibilitem discussões sobre a formulação de conflitos sociais e como as divergências atingem e contribuem para a formação de minorias, grupos sociais e pessoas em situação de vulnerabilidade, não apenas de maneira visível, mas também de modo simbólico contribuindo, assim em práticas de silenciamento, exclusão e invisibilidade. Além disso, propõe o estreitamento teórico entre o Direito, de natureza social crítica, e a Linguística Crítica Discursiva, Análise Crítica do Discurso, com o objetivo de investigar a (des) construção discursiva, seu aspecto multidisciplinar e seu direcionamento sobre as relações entre linguagem, poder, denominação, discriminação e controle e as intervenções da ideologia patriarcal nas relações de gênero nesses textos judiciais quando vão de encontro aos interesses dos grupos minoritários.

GT 12 – Ensino de História e Digitalidade

Enseñanza de la Historia y la Digitalidad

Thomas Selau de Castro (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS)
Adriana Justin Cerveira Kampff (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS)

Este grupo de trabalho objetiva o debate acerca da relação entre ensino de História e digitalidade, a partir de pesquisas e de relatos de experiências didático-pedagógicas do e no ensinar História em tempos digitais. A História, enquanto área acadêmica, se constituiu como ciência que analisa as experiências e desenvolvimento da humanidade no tempo e no espaço. O ensino de História, seja em ambientes de aprendizagem formais ou informas, possui caráter formativo integral, civilizatório e contribui para o desenvolvimento de consciência histórica dos sujeitos. Ainda que a concepção tradicional sobre o ensino de História seja constituída por uma necrologia do passado, atualmente se constitui como dimensão de potencialidades para práticas pedagógicas atualizadas e de acordo com o perfis dos estudantes contemporâneos. O impacto das tecnologias digitais, quando presentes ou ausentes, na Educação no e para o século XXI e em específico nas práticas pedagógicas é notável. A digitalidade é a condição ou característica de conteúdo ou produto nato-digital para ser acessado ou consumido em ambientes ou plataformas digitais, isto é: quando convertida a modelos analógicos de comunicação e informação acaba por perder eficiência e possibilidades ao limitar-se a um plano dimensional único, diferente da multidimensionalidade possibilitada pelas tecnologias digitais. A respeito do ensino de História, pode-se identificar, em geral, o afastamento com relação à digitalização – conversão do analógico ao digital – enquanto caminha-se em direção à produção digital de recursos didáticos específicos. Neste cenário, ao centralizar a discussão no ensino da História na contemporaneidade, marcadamente digital, investigações e práticas docentes na educação básica e no ensino superior, além de práticas educativas em espaços não-formais, como museus e projetos sociais, são bem-vindos. Interessa também aprofundar os pontos de vista dos sujeitos participantes dos processos em análise, sejam eles os estudantes/participantes, os professores/educadores e/ou os gestores dos espaços que experenciam as transformações digitais e ressignificam o ensino de História. Da utilização de mídias existentes à produção de conteúdos digitais inovadores, do uso de tecnologias digitais disponíveis em novas configurações à criação de tecnologias específicas para o ensino de História, as partilhas no grupo de trabalho proposto visam a ampliar as contribuições sobre o tema no sentido de práticas atrativas e contemporâneas. 

GT 13 – Ensino de história, educação e cultura

Enseñanza de historia, educación y cultura

Juliana Porto Machado (UFPEL)
Ronaldo Bernardino Colvero (UNIPAMPA)
Fatiane Fernandes Pacheco (UFPEL)

O GT se propõe a discutir e reiterar o vínculo existente entre o professor, a escola, a universidade e a comunidade escolar, em uma rede de diálogos e trocas de informações que auxiliam na difusão e promoção das práticas coletivas que abarcam as diversas esferas que integram o Ensino de História no Brasil. Á área do Ensino de História fortalece-se a partir do século XX no país, criando uma esfera fronteiriça de conhecimento entre Cultura, Educação e História que consolidam esse campo de investigação. Pensando nisso, este GT está aberto para receber pesquisas de estudantes, docentes e pesquisadores que trabalham com o ensino de História em suas mais diversas ramificações, desde as didáticas de História, das experiências pedagógicas, das relações socias, políticas, religiosas, patrimoniais, culturais e dos desafios presentes nesse campo de estudo na atual conjuntura. 

GT 14 – Cultura Material e Visual: fontes para os estudos das Humanidades

Cultura material y visual: fuentes para estudios de Humanidades

Amanda Basilio Santos (UFRGS/UFPEL)
Ronaldo Bernardino Colvero (UNIPAMPA)

Este GT busca reunir trabalhos que discutam usos de fontes materiais e/ou visuais em pesquisas no campo das Humanidades, ou que sejam estudos de caso específicos da aplicação de metodologias ou de resultados de pesquisas concluídas, onde a principal fonte da pesquisa estava no uso da cultura material e/ou visual. Deste modo, este GT percorre caminhos que comportam trabalhos da arquitetura, arqueologia, artes, história, etc, possuindo um caráter interdisciplinar inerente. Sabendo-se da heterogeneidade do próprio conceito de Cultura Material e Visual, e das diferentes abordagens que estes conceitos possuem nas diferentes disciplinas que os empregam, este GT busca exatamente proporcionar este espaço de diálogo e trocas, permitindo uma ampla visão de possibilidades de aplicação, dentro do grande universo que inclui a produção visual e material humana, socialmente elaborada, construída e apropriada, sendo uma janela, um domínio para a compreensão sociocultural. Busca-se também discutir além dos aspectos técnicos e físicos que compõe a fisicalidade destas fontes, extrapolando ao universo dos sentidos e significados culturais, e sua constante mutação no meio social, mostrando o dinamismo cultural, que acarreta em constantes reapropriações e ressignificações, por mais que muitas vezes não hajam alterações materiais. Deste modo, buscamos discutir deste o campo teórico-metodológico que circunda o universo das fontes visuais e materiais, assim como abraçar os trabalhos e estudos de casos que possuam tais fontes como fulcrais em suas pesquisas, podendo também ser um espaço para discutirmos a biografia em constante mutação destas fontes. 

GT 15 – Educação, Turismo e o Patrimônio Cultural

Educación, Turismo y Patrimonio Cultural

Dra. Angela Mara Bento Ribeiro (Unipampa-Jaguarão-RS)
Me. Carlos José de Azevedo Machado – IFRS- Campus Bento Gonçalves-RS)
Dra. Maria de Fátima Bento Ribeiro (Ufpel)
Dra. Naiara Souza da Silva (Ufpel)

As discussões centram-se na educação, turismo e Patrimônio Cultural e objetiva reunir pesquisadores que tenham estes tópicos entrelaçados em seus estudos. Uma abordagem multidisciplinar com relevância aos temas: educação, Turismo, Patrimônio Cultural, sociedade, as relações sociais e contribuições temáticas relativas, paisagem, identidade, imaginário, território  e outros que sintetizem esse espaço emblemático, e sua relação no cenário atual. Reflexões que contribuam para o desenvolvimento da atividade turística desde uma perspectiva multidisciplinar e sustentável e assim demonstrar de que forma as investigações podem impactar positivamente uma região. A presente proposta faz-se importante nesse contexto atual ao qual vivemos como uma possibilidade de aprofundar questões pertinentes à Educação e ao Turismo por meio da investigação científica e assim integrar docentes e discentes pesquisadores de cursos de graduação e de pós-graduação que discutem o tema.